Os sonhos da avó em mim
A Avó influenciou-me em duas coisas.
O gosto pela escrita e pela dança...
Nos meus primeiros anos de existência morávamos perto dela na Amadora. Mais tarde partimos para Coimbra e depois para Vila Praia de Âncora.
Nas férias de Verão eu e Big Brother passávamos alguns dias com a Avó.
Mal entrei para a primária a Avó passou a comprar-me cadernos “de duas linhas” para “ter uma letra bonita”. Todos eles tinham capas com meninas e passarinhos e flores e corações e tudo-tudo que as meninas gostam. Nas férias e estando com ela, era nesses cadernos que eu escrevia as histórias que ela me contava. E pedia-me “Escreve-me cartas”, quando regressávamos a casa no fim das férias. E eu escrevia. Ficaram com ela… os cadernos e as cartas. Nunca mais os vi.
E depois havia o “um dia vais ser bailarina…”. Ligava o transístor (que era como ela chamava àquele rádio preto pousado numa mesa, junto ao seu cadeirão), sintonizava-o numa estação que “só ela sabia” e ficava ali sentada, naquele cadeirão de espaldar recto “para não ficar com corcunda”, a ver-me rodopiar e saltitar, fazer imitações de pliés e croise devant. E sorria. E (sei-o agora) sonhava… Aquele olhar perdia-se. Por outros mundos que não eu. E eu perguntava-lhe “Avó, está a olhar para mim?” e ela que sim! “Que me estava a ver…” Mas eu sabia que não.
E hoje, com esta idade, ainda gosto tanto e tanto das duas coisas que a Avó me influenciou.
A escrita que me alivia a neura.
A dança que me dá cabo das loucuras.
E uma extra… cadernos, blocos e memos lindos! Perco-me!
Passei foi ao lado das respectivas carreiras… escritora e bailarina.
Mas faço de conta…