Folha 120/366 A 29 de Abril de 1990...
...foi o Dia Mundial da Dança.
Como é hoje, dia 29 de Abril de 2016.
Mas á 26 anos atrás a minha dança foi diferente. “Dancei” durante 8 horas e 20 minutos no piso de Obstetrícia do ULSAM, de Viana do Castelo, dia em que o meu filho nasceu.
Vou-vos contar. Atentos, pois então...
Dei entrada ás 08:00 da manhã.
A bolsa de águas tinha-se rebentado ás 22:00 na noite anterior, mas eu deixei-me ficar muito quietinha na minha caminha. Passei a noite em branco, como podem imaginar. Não tinha dores nenhumas. Mas pensava na criança que tinha dentro de mim.
“Como será?”
“Virá perfeito?”
“Será lindo-lindo ou vai-me sair uma coisa feia?”
“Vou saber cuidar dele?”
“Ele vai gostar de mim?”
Tanta pergunta e nenhuma tinha resposta.
De manhã lá fomos nós. Eu, Maridão, Papá e Mamã. Entrei eu e Maridão, que ficou sempre comigo, até á hora do parto, ao qual assistiu.
Foram 8 horas e 20 minutos de, primeiro, nervosismo, segundo, ansiedade, e só depois as dores.
Com 20 aninhos estava tão “perdida”! Não fazia ideia do que me esperava ou o que iam fazer comigo. Há 26 anos a informação em relação a estes assuntos ainda era bastante escassa.
Depois veio também a sogrinha, que na altura era funcionária do piso de Obstetrícia (quem foi a sortuda, quem foi?!), e que me conseguiu acalmar os nervos em que estava.
A única coisa que eu sabia era fazer a “respiração á cão” quando vinham as contracções!
Lembro-me de ganhar uma animosidade, tão grande, á enfermeira que, de vez em quando, vinha ver a dilatação. Quando lhe sentia os passos, já me contraia toda! Não queria nada aqueles dedos enfiados, vocês sabem onde…
E ás 15:55 dá-me vontade de ir á casa de banho.
“Sogrinha… tenho de ir á casa de banho!”
“Tens a certeza? Pode ser o bebé…”
“Não-não! É mesmo fezes!”
Maridão e sogrinha carregam comigo para o WC. Chego lá e não consigo fazer nada. Levam-me novamente para a cama, e sogrinha sai disparada. Quando regressa vem acompanhada da enfermeira-enfia-dedos, que “tem de me ver” o que significava que lá ia eu abrir pernas, para ela me “analisar”. Nem o fez.
“A cabeça do bebe já se vê! EMBORA!”
E levam-me em braços para a maca-abre-pernas, coisa mais desconfortável e que não lembra a ninguém.
Foram 20 minutos. 20 minutos de:
“Força Ana Sofia!”
“Puxa, Ana Sofia!”
“Na próxima contracção, tem de sair!”
E eu com vontade de mandar calar a Sra. Dra. Obstetra que já me estava a encher as “medidas” todas da paciência!
Finalmente o rapaz lá se decidiu a sair.
Foi logo ali, na hora do nascimento, que Tesourinho me mostrou com o que contar.
Cheio de vontade própria, só saiu quando muito bem entendeu, que eu não estava com nenhuma contracção e estava sem forças para fazer “força”.
E PUF!
Lá veio ele!
Era tão pequenino! Nasceu com 49 cms, pesava 3,730Kgs e vinha sem penugem nenhuma! Não tinha cabelo! O meu bébé nasceu carequinha tal-qual um boneco chorão!
E depois, em vez de mo entregarem logo, não senhora!... Levaram-no para ali, uns 3 metros de mim!
E eu já "Caraças! Mas não me dão o meu filho porquê?!" E eu só via mãos e o meu filho no meio daquelas mãos e vi uma mão que lhe deu uma sapatada e pela primeira vez a voz do meu filho fez-se ouvir! Arrepio-me ainda hoje só de pensar na emoção que foi! Maridão chorava, sogrinha dizia "Ai que lindo!" e eu só me queria levantar. E a médica "... que não! Não pode ser... tem de levar uns pontos e só se levanta daqui a umas horas..." COMO? Desculpe?? E quem trata do meu crio?? Nã Senhora! Eu levanto-me que eu consigo!
Tanta ingenuidade! Dali a minutos apercebi-me que ela tinha razão... e da pior maneira... que quis fazer as coisas como eu bem entendia e quase deixo cair o Tesourinho com as dores.
E pronto... Foi esta a minha “horinha”. Que todas nós, mães, temos de passar. Umas mais, outras menos, a minha foi mais-ó-menos.
Foi á 26 anos.
E garanto-vos que a minha vida nunca mais foi a mesma!