Coisas estranhas que acontecem porque EU as provoco...
Ora, andava a Toda Amor numa maré de azar.
Naquelas fases da vida em que uma gaja de manhã, não deve á tarde sair de noite.
Nem deve respirar, sequer.
Naquelas semanas-após-semanas em que apetece ser como a avestruz… Ala! Cabeça enfiada na areia até a vida passar.
Pois bem…
A Amor ia sossegadinha da vida, conduzindo, a pensar nos 1001 “problemas” que tinha para resolver e… STOOOOPPPP!
GNR manda encostar. (quase o levo na frente, mas isso são outros mil…)
“OH P*T@ DEITA-TE!!!”
E a Amor encostou… e abriu o vidrinho…
“Boa tarde Sra. Condutora. Os seus documentos e os da viatura se faz favor.”
“Boa tarde Sr. Agente.”
E toca de abrir a malinha (malona vá!) e retirar a carta de condução. E entregá-la ao Sr. Agente. (Rapazinho novinho, quis-me a mim parecer ainda em fase de estágio, pois que ainda tinha acne nas ventas).
E depois foi a procura dos documentos da viatura.
E como a Amor é uma condutora do melhor que há, NUNCA SEI quais são os documentos que os Agentes da Autoridade querem fiscalizar! E vai de perguntar:
“Oh Sr. Agente! Qual destes papéis quer?”
E por papéis entenda-se uma parafernália de papelada, inclusive facturas de não-sei-o-quê que Maridão não guardou, quando foi preciso comprar algo para a viatura.
O Sr. Agente ficou a olhar pra moi. Com olhinhos de “Mas tás a gozar comigo?” E eu, logo:
“Sr. Agente!... Eu não tou a brincar… (verdade) é que não sei mesmo que documentos quer! (verdade) Eu sou uma azelha nestas coisas!... (verdade) O meu marido já me explicou um par de vezes (mentira!) mas eu não consigo fixar. E tirei a carta á pouco tempo (mentira!) e não sei mesmo.” E répépéu… (GRA-XAAAAAAAAAAAAA)
Sr. Agente, já sem me poder ouvir nem mais um segundo, agarra-me na parafernália de papéis e escolhe-os ele.
E põe-se ali… a fiscalizar tudo-tudo-tudinho.
C’A FILHO DE UMA PROGENITORA PAH!
Ás páginas tantas:
“Quem é este Sr. A.J.C.J?”
“É o meu marido…”
“E a Sra. vive com ele?”
“SIM!” (eu, com cara de DDDAA-AAAAHHHH)
“Ah! E então o Sr. A.J.C.J vive na Rua XPTO e a Sra. na Rua ZDTE! MUITO BEM! Vai ser autuada!”
Congelei!
Eu??? Autuada??? Nesta altura do campeonato??? Em que tudo me acontece??? NEVER-NUNCA-JAMAIS!!!
Saio do carro… em passo decidido vou atrás dele…
“Sr. Agente! Está a ver aquela ponte ali?”
“????” (ele a olhar para mim e para a ponte)
“É assim!... O Sr. autua-me e eu atiro-me da ponte abaixo. Agora é consigo!”
E ficamos os dois a olhar um para o outro.
Na profundeza dos olhos… uns castanhos e outros cor-de-burro a fugir.
Mesmo-mesmo lá no fundo.
E vejo-lhe um trejeito na boca… um esgar de dúvida… e eu (para que não restasse nenhuma e mentindo com os dentes todos):
“Não tenho condições de pagar essa multa… estou desempregada e é só o meu marido a ganhar. Temos três filhos pequenos… passamos fome… o Sr. autua-me e eu atiro-me da ponte abaixo.”
Devolveu-me a carta.
E os documentos da viatura.
E: “Vá tratar de mudar a sua morada Sra. Condutora. Desta vez passa.”
E eu, ala que se faz tarde.
E não é que este foi o 1º acontecimento bom que ocorreu naquelas semanas?
E aos poucos a vida encarreirou…
Ele há coisas do caraças pah!
P.S. 1 – Quando contei ao Maridão não quis acreditar. Mas não foi na mentira dos três filhos, nem no desemprego da Amor, nem na fome que passávamos. Não quis acreditar foi no Sr. Agente, com acne nas ventas, a ter de “escolher” os documentos da viatura. E dizia ele: “É por seres gaja! Só pode!” E eu, com ar de ofendida: “Oh mor… mas tu sabes qu’eu sou mesmo uma naba nestas coisas…” E ele: “És-és!”
P.S. 2 – E agora, sempre que vejo uma operação stop congelo. É que ainda não fui alterar a morada na bendita da carta…
P.S. 3 – E eu que saiba que isto sai daqui!