Tesourinho esteve cá TRÊS semanas.
Foi bom até dizer chega.
(sim... eu sei... digo sempre a mesma coisa!)
Mas hoje vou-vos contar a zanga que eu e ele tivemos, para que não pensem que nós somos a familia maravilha, e que nada de muito mau acontece entre nós.
Desenganem-se.
Sábado. Dia de piquenique com a familia. Tudo combinado, do género "tu levas isto, eu levo aquilo, ela leva acoloutro e encontramo-nos lá". Um sábado de um calor descomunal. Mas o local era o ideal para um dia assim. Pinhal de um lado e mar do outro. Espectáculo.
Ora eu, que tenho em casa um homem que não é pontual, é rara a vez que consiga chegar a horas a algum sitio, quando tenho de ir com ele. Já imaginam o que se passou não é verdade? Chegamos atrasadérrimos ao local combinado. Porque já saimos tarde de casa, porque demoramos imenso tempo a ir comprar o que ficamos de levar, porque estava um trânsito infernal e blá-blá-blá.
Chegados ao local, eu saiu do carro disparada e ouço o seguinte:
- Então? Não levamos já as coisas? (não sei quem foi que perguntou isto... se o pai se o filho)
- NÃO! Vou ser se eles estão ali, porque de certeza que estão é na praia!
Fui. A familia toda estava lá. Regresso ao carro (que ainda estava a uns valentes metros de distância) e levo com isto:
- MAS TU ESTÁS NO GOZO CONOSCO? VIRAS ASSIM AS COSTAS E NÃO DIZES NADA A NINGUEM? FICAMOS NÓS AQUI FEITOS PARVOS? (e continuou a gritar - sim Pessoas! A gritar! - mais um par de frase que eu nem as ouvi)
Era o meu filho que gritava assim comigo.
Era o meu filho que me estava a faltar ao respeito, ali, em via pública, a plenos pulmões, com aquela gente toda a ouvir e pior a parar para ver bem o que se passava.
Primeiro, estaquei.
Segundo, e por breves segundos, lembro-me de ter pensado "isto não é comigo!"
Terceiro, caí em mim e vi que sim. ERA COMIGO.
Bem... é assim... dizer-vos que fiquei CEGA é muito pouco.
Alargo a passada, dirijo-me a ele e: "Mas tu pensas que está a falar com quem? Tu não me gRitas e não me faltas ao respeito, ouviste bem? Mas o que é isto? Calas-te e é já"
Não, Pessoas. Não gritei. Não elevei o tom de voz nem um decibel só. Disse-lho a olhar bem naqueles olhos amendoados lindos, e a tremer que nem varas verdes.
Calou-se. Olhou-me. Virou-me as costas.
E passamos o dia sem nos falarmos. Mal nos olhávamos.
Á noite, já em casa, ele está na casa-de-banho e eu entro.
Estou a colocar rimel nos meus cilios lindos e fofinhos.
Tesourinho coloca-se por detrás de mim.
Olhamo-nos pelo espelho.
E ele murmura: "Desculpa".
OH PAH!
Garanto-vos que abraço mais abraçado, nunca, em tempo algum, foi dado