Há uma coisa para a qual todas as mães se devem preparar durante o crescimento dos filhos. O afastamento (natural) deles. Ou pelo menos deveriam! Antes de sermos mães, somos filhas. E nós “afastamos” os nossos papás da nossa vidinha certo? Portanto, e tendo consciência do que fiz aos meus progenitores, fui-me preparando e estava a contar com o dito cujo.
Quando falo em afastamento é aquele do género:
“Filho, já fizeste o trabalho para Português?”
“Já.”
“E que tal? Conseguiste?
“Sim.”
“Então mostra.”
“Oh mãe! A sério?? Tá feito. Não te preocupes.”
Este é o primeiríssimo sinal de afastamento dos filhos.
Quando já não sentem necessidade de “partilhar” os trabalhos de casa.
“Mãe… sábado posso dormir em casa do “Fulano de Tal Sicrano da Silva?”
(COMO??? DORMIR ONDE??? COM QUEM??? – pensamento em “voz alta”)
“Hhmmm… onde é que ele mora?”
“No “Lugar da Cochinchina”, perto da “Fonte do Desespero”
“E quem vai estar?”
“Eu, o “Fulano de Tal Sicrano da Silva”, o “Carvalho d’Araujo” e o “XPTO Abelhos”.”
“Hhhhmmm… não sei! E como é que é isso? Os pais sabem?’”
“Nós temos que apresentar um trabalho a Físico-química, vamos faze-lo durante a tarde e depois ficamos lá a dormir… e os pais dele sabem CLARO!”
(SEI! DEVES PENSAR QUE EU JÁ NÃO TIVE A TUA IDADE!!! – outro pensamento em “voz alta”. E este eu iria jurar que foi ouvido!)
“Não sei! Vou falar com o teu pai e depois digo-te o que decidimos.” (esta é a melhor desculpa para se adiar uma resposta!)
(Vejo na expressão dele que não gostou, mas aguenta-se que é o remédio…)
Sábado de manhã… “Mãe… Posso então ficar a dormir na casa do “Fulano de Tal Sicrano da Silva?”
“Podes. Juizinho hã! Porta-te bem e não aborreças ninguém.”
E levo com um daqueles olhares tipo: “WTF!!!”
E viro-lhe as costas só para LOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL
Domingo: “Então filho?! Que tal? Correu bem a estadia na casa do teu colega?”
“Correu.”
“E dormiste bem?”
“Sim.”
“E mais? Conta-me…”
“Oh mãe! A sério?? Foi fixe, espectacular. Não há mai nada pra contar”
Segundo sinal de afastamento dos filhos.
Quando já não sentem necessidade de “partilhar” as aventuras com os amigos.
E muitos mais afastamentos como estes há na vida de uma mãe.
(E agora um aparte, para quem já possa estar a stressar: depois eles “regressam” não se preocupem. Já mais maduros eles “voltam”…)
A amizade mantêm-se. A cumplicidade de olhares também. Sei quando está mal. Quando está feliz. Quando está radiante. Quando está com a “telha”. Só com um olhar. Ele sabe quando eu estou mal. Quando estou feliz. Quando estou radiante. Quando estou com uma telha de todo tamanho. Só com um olhar.
Mas os afastamentos a que os filhos, tranquilamente, sem stress e devagarinho, nos sujeitam, vêm sem aviso. “Ah e tal… o meu ainda está “debaixo da asa”” Está-está!!! Pois preparem-se que é quando menos esperam…
O meu, hoje, afastou-se mais um bocadinho.
Já me tinha informado há uns tempos. Preparei-me…
Afastou-se para cerca de 2000 km.
Saiu da Vila que o viu crescer para se estabelecer noutro país. (Comecei a ODIAR a palavra “emigrar”).
Sei que vai ser Feliz (ASSIM QUERO ACREDITAR COM CORAÇÃO DE MÃE).
Trabalhar para um futuro que neste nosso Portugal não há.
As despedidas não são fáceis. E para isto sim! EU NÃO ESTAVA PREPARADA. Para a despedida. Para ver aquele avião partir e levar o meu tesourinho!
Vou ali, encostar a cabeça no ombro de quem está tão mal como eu, e deprimir só um bocadinho.
Daqui a uns dias vou estar bem.
PROMETO.